Quebrar o silêncio
por José M. Antunes | 30.03.2015
Falemos por nós.
Não vai assim tanto tempo, as páginas do «TM» acolhiam, sempre com júbilo, a colaboração de médicos que aqui davam conta das suas preocupações, anseios, dúvidas, queixas.
Não, não me refiro a responsáveis institucionais que, por dever de ofício, se pronunciam sobre o dia-a-dia da Saúde; refiro-me àqueles profissionais que, de motu proprio, entendem partilhar com os colegas, de forma alargada, o que se confina à mesa do café no hospital, ao corredor dos congressos, às cavaqueiras estivais, à solidão. Sentimos a sua falta, e decerto a não sentem menos os nossos leitores.
A que se deverá tão prolongado silêncio?
Por que razão zanga, infelicidade, descontentamento, que se detectam na conversa casual, se esgotam nesse círculo fechado?
Excesso de trabalho, falta de paciência, descrença na utilidade de comunicar, medo de expor opiniões?
O excesso de trabalho é com certeza um dos principais motivos – mas também um excelente tema para opinar, identificando causas e propondo soluções, num tempo em que a comunicação social mal dá vazão às notícias, por vezes dramáticas, relacionadas com carência de efectivos nos hospitais a todos os níveis.
A falta de paciência não será razão de somenos; quem, no fim de um longo e cansativo dia de trabalho, se dispõe a passar ao computador inquietações ou sonhos, merece homenagem, mas a partilha vale bem o esforço e a série televisiva pode ser gravada e vista em outra ocasião que não colida com a escrita oportuna, em tempo.
Não vai assim tanto tempo, as páginas do «TM» acolhiam, sempre com júbilo, a colaboração de médicos que aqui davam conta das suas preocupações, anseios, dúvidas, queixas
A descrença na utilidade de comunicar é mais fruto da desistência do próprio, desculpa mal-amanhada para encobrir a preguiça ou a tibieza, do que da desistência do destinatário; este aguarda com expectativa que o confirmem ou o contraditem, mesmo que guarde só para si o que pensa – e nem vale a pena lembrar que as palavras, sim, podem mudar o Mundo, todos os tempos o atestam. Resta o medo de expor opiniões.
Num tempo em que se fala de listas de contribuintes VIP e de inquéritos a funcionários de repartições de finanças por terem acedido a este ou àquele cidadão especial, não podemos rejeitar liminarmente que o tão humano medo coarcte a liberdade de quem, certo ou errado, tema pelo seu futuro.
Porém, ainda assim, não existirá melhor tema para um grito de denúncia. Corajoso, claro. Isto para dizer que, realmente, não há razão para que as páginas deste tempo, o «Tempo Medicina», não voltem a alegrar-se com o contributo daqueles para quem é feito.
Não há razão para que as páginas deste tempo, o «Tempo Medicina», não voltem
a alegrar-se com o contributo daqueles para quem é feito
Não vai assim tanto tempo, as páginas do «TM» acolhiam, sempre com júbilo, a colaboração de médicos que aqui davam conta das suas preocupações, anseios, dúvidas, queixas.
Não, não me refiro a responsáveis institucionais que, por dever de ofício, se pronunciam sobre o dia-a-dia da Saúde; refiro-me àqueles profissionais que, de motu proprio, entendem partilhar com os colegas, de forma alargada, o que se confina à mesa do café no hospital, ao corredor dos congressos, às cavaqueiras estivais, à solidão. Sentimos a sua falta, e decerto a não sentem menos os nossos leitores.
A que se deverá tão prolongado silêncio?
Por que razão zanga, infelicidade, descontentamento, que se detectam na conversa casual, se esgotam nesse círculo fechado?
Excesso de trabalho, falta de paciência, descrença na utilidade de comunicar, medo de expor opiniões?
O excesso de trabalho é com certeza um dos principais motivos – mas também um excelente tema para opinar, identificando causas e propondo soluções, num tempo em que a comunicação social mal dá vazão às notícias, por vezes dramáticas, relacionadas com carência de efectivos nos hospitais a todos os níveis.
A falta de paciência não será razão de somenos; quem, no fim de um longo e cansativo dia de trabalho, se dispõe a passar ao computador inquietações ou sonhos, merece homenagem, mas a partilha vale bem o esforço e a série televisiva pode ser gravada e vista em outra ocasião que não colida com a escrita oportuna, em tempo.
Não vai assim tanto tempo, as páginas do «TM» acolhiam, sempre com júbilo, a colaboração de médicos que aqui davam conta das suas preocupações, anseios, dúvidas, queixas
A descrença na utilidade de comunicar é mais fruto da desistência do próprio, desculpa mal-amanhada para encobrir a preguiça ou a tibieza, do que da desistência do destinatário; este aguarda com expectativa que o confirmem ou o contraditem, mesmo que guarde só para si o que pensa – e nem vale a pena lembrar que as palavras, sim, podem mudar o Mundo, todos os tempos o atestam. Resta o medo de expor opiniões.
Num tempo em que se fala de listas de contribuintes VIP e de inquéritos a funcionários de repartições de finanças por terem acedido a este ou àquele cidadão especial, não podemos rejeitar liminarmente que o tão humano medo coarcte a liberdade de quem, certo ou errado, tema pelo seu futuro.
Porém, ainda assim, não existirá melhor tema para um grito de denúncia. Corajoso, claro. Isto para dizer que, realmente, não há razão para que as páginas deste tempo, o «Tempo Medicina», não voltem a alegrar-se com o contributo daqueles para quem é feito.
Não há razão para que as páginas deste tempo, o «Tempo Medicina», não voltem
a alegrar-se com o contributo daqueles para quem é feito
Quebrar o silêncio