e médicos intensivistas.
Apesar de não resolver no curto prazo a sua sentida escassez, dado o hiato temporal até serem formados, por esta via, os novos intensivistas, finalmente fica resolvido um processo (?) titubeante e atípico na formação nesta especialidade clínica.
Situação na Região Centro é gritante
Mas de toda a panóplia de problemas, é gritante na Região Centro a inexistência de camas de cuidados intermédios polivalentes.
Em relação ao número de camas de agudos (4228), a Região Centro tem a taxa mais baixa de camas de cuidados intensivos: 1,7%, que é inferior à taxa nacional de 2,2%, e bem inferior aos objetivos nacionais de 2,5%, definidos pela comissão nomeada pela ACSS, para estruturar a respetiva rede de referenciação.
Se olharmos para o conjunto de camas de cuidados intensivos e camas de cuidados intermédios polivalentes, aquela taxa, enquanto objetivo, sobe para 3,5%. Na prática, o que isto significa é que na Região Centro necessitaríamos de 105 camas de cuidados intensivos (número atual: 75) e de 42 camas “intermédias” atualmente inexistentes.
Ou seja: um total de 147 camas!
Não admira que “a procura seja maior do que a oferta!”
Por estas “insuficiências”, que os números não deixam ocultar, não admira que “a procura seja maior do que a oferta!”… e que recorrentemente a falta de camas vagas em cuidados intensivos, durante o ano, se verifique para além dos períodos sujeitos à sazonalidade, com taxas de ocupação a rondar os indesejáveis 100%!
Hoje em dia, é reconhecido que “a existência de camas de cuidados intermédios incorporados, ou anexados às UCI polivalentes […] torna as UCI mais funcionais, otimiza recursos e melhora a qualidade assistencial”.
Esta referência consta da Avaliação da Situação Nacional das Unidades de Cuidados Intensivos (Despacho nº4320, DRnº59 de 25 de Março), cujo relatório final foi publicado em 2015, acrescentando que o aumento da existência de camas de cuidados intermédios acoplados a UCI com as quais partilham recursos materiais e humanos e sob gestão comum, “parece-nos uma evolução desejável”, permitindo “aumentar ou reduzir o nível de cuidados de cada doente de modo fácil e célere”.
Uma unidade de cuidados intermédios, integrada num Serviço de Medicina Intensiva, permite a gestão correta dos doentes críticos a “montante” e a “jusante” dos cuidados intensivos agilizando-se o step-up e, sobretudo o step-down para o nível de cuidados adequados destes doentes.
É, seguramente, uma mais-valia no que respeita à qualidade dos cuidados e à segurança dos doentes.
Quem trabalha em Medicina Intensiva, sente todos os dias, essa “crónica” falta de camas nas diversas Unidades e Serviços da Região Centro
Não é tolerável, em termos gestionários, que se mantenham internados em camas de cuidados intensivos, doentes que apenas necessitam de “cuidados intermédios”
Não basta apregoar Qualidade em Saúde nas mais diversas formas, é preciso praticá-la!
Permitirá também uma redução de custos, por diminuição de reinternamentos e da morbilidade, prevenção da deterioração clínica e diminuição de mortes evitáveis. É impossível baixar a demora média e os custos nos Serviços de Medicina Intensiva sem a existência de camas ”intermédias”.
Inexistência de camas de “cuidados intermédios”
Apesar de ser a bem dos doentes, não é tolerável, em termos gestionários, que se mantenham internados em camas de cuidados intensivos, doentes que apenas necessitam de “cuidados intermédios”, mas a quem os intensivistas não desencadeiam a sua transferência por inexistência daquele tipo de camas.
Assim se evita muitas vezes que venham a morrer em enfermarias lotadas de doentes dependentes, com recursos insuficientes para os níveis de cuidados exigidos por estes doentes “pós-críticos”.
Na Região Centro, a inexistência de camas de cuidados intermédios sob gestão das UCI/Serviços de Medicina Intensiva obriga a que se procurem rápidas soluções.
É urgente que a ARS Centro faça o seu papel no planeamento e criação de Unidades de Cuidados Intermédios Polivalentes “integradas”. É tempo dos hospitais da Região Centro encararem o circuito do doente crítico com efetivo espírito de modernidade à luz dos conhecimentos atuais e das boas práticas para evitar “mortes evitáveis”!
Má prática
É urgente que os conselhos de administração se empenhem e percebam que, existe um circuito do doente crítico, e que, em pleno século XXI, será conveniente que se dispam de arquétipos do passado, e que passem a ser responsabilizados por falhas de segurança destes doentes quando saem dos “cuidados intensivos”.
Quando isso acontecer, a insensibilidade para esta questão de má prática ficará resolvida.
É tempo de se pensar seriamente no que se pretende com o acesso a cuidados de qualidade em Medicina Intensiva e ter os nossos hospitais dotados com o número de camas adequado nesta área; nesta definição de necessidades, deve ser tida em conta a natureza dos fluxos de doentes de acordo com as capacidades de cada instituição hospitalar e as responsabilidades decorrentes da referenciação.
Não basta apregoar Qualidade em Saúde nas mais diversas formas, é preciso praticá-la!
Não basta falar em Excelência, é preciso desenvolvê-la! Coimbra, 13 de Maio de 2016
*Médico Intensivista do CHUC
NR: Entretítulos e destaques da responsabilidade da Redacção
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13 de Maio de 2016
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Insuficiências da Medicina Intensiva na Região Centro