Como médico especialista em casos de Oncologia, reconheço a importância do acesso a melhor informação, o que inclui a possibilidade de acesso à opinião dos melhores especialistas a nível mundial.
É no entanto essencial que essa informação se concilie com o trabalho dos médicos locais, e com o apoio e ajuda às pessoas ao longo de todo o processo através de uma equipa especializada e próxima.
Pedir uma segunda opinião médica, quando?
A procura de uma segunda opinião ocorre geralmente em quatro quadros-tipo:
• O doente e a família procuram saber se estão inseridos no melhor plano de tratamento ou de vigilância médica.
• Quando a doença oncológica se apresenta com um prognóstico desfavorável, por se encontrar em estádio avançado ou por ser muito resistente aos tratamentos conhecidos, o doente quer ter a certeza de que está a fazer tudo ao seu alcance para obter os melhores resultados que a Medicina atual pode oferecer.
• Quando há incerteza sobre o tipo de tumor, ou há uma forma de tumor raro (cuja experiência relevante só existe em poucos centros.) Nestes casos, é necessário conhecer a melhor estratégia, sobretudo quando a literatura médica não reúne a evidência necessária para uma decisão consensual.
Por fim, há situações em que é legítimo propor mais do que uma alternativa para tratar uma determinada situação, de modo a avaliar as possíveis complicações de cada tratamento proposto. Nestes casos é de toda a utilidade consultar quem tenha experiência na utilização dos vários procedimentos para avaliar e ponderar os possíveis resultados e os riscos associados a cada alternativa.
Exemplos
Como exemplo da primeira situação, posso citar o caso de uma doente de 54 anos, operada a um carcinoma do cólon estádio II, de acordo com a AJCC (American Joint Committee on Cancer).
A doente quis saber se deve ou não realizar quimioterapia adjuvante para aumentar as probabilidades de cura. A melhor resposta depende da análise cuidada dos factores de risco e, por fim, de uma explicação clara para a doente sobre qual é o benefício absoluto se fizermos essa opção (pode chegar aos 4-5%).
No segundo cenário, vamos exemplificar com um caso de carcinoma da mama com evidência de metástases ósseas, com metástases hepáticas e pulmonares também, e para o qual poderia haver diferenças de opinião sobre o tratamento a seguir numa primeira fase: hormonoterapia ou quimioterapia.
Ou então, poderíamos citar o exemplo de um carcinoma do pâncreas não operável e para o qual se tem dúvidas sobre qual a estratégia a seguir com o intuito de tornar a doença cirurgicamente ressecável.
Para qualquer dos casos pode ser muito oportuno que quem orienta a segunda opinião possa indicar centros oncológicos com estudos clínicos adequados à situação clínica em causa.
No momento atual, em que se assiste a uma “revolução” no paradigma de tratamento de muitos tumores com a imunoterapia, ser capaz de indicar um centro oncológico que pode acolher o doente para um novo tratamento em investigação é muito importante.
Para o terceiro grupo de doentes, a iniciativa da procura da segunda opinião parte frequentemente da própria instituição de acolhimento. Por exemplo, para um doente operado a um sarcoma ósseo sem diferenciação, pode ser necessária uma consulta com outra instituição a nível do diagnóstico anatomopatológico.
Com a recente criação dos centros de referência em Oncologia, somente algumas instituições estarão capazes de lidar eficazmente com algumas patologias oncológicas e mesmo estas, deverão ter canais de acesso aos melhores centros internacionais.
Por fim, o último quadro que exemplifico com um caso de um jovem com um tumor na coluna cervical (um tumor de células gigantes por exemplo) e, para o qual existem dúvidas sobre a ressecabilidade cirúrgica e os seus riscos inerentes.
Pode ser premente conhecer a opinião de um dos mais experientes especialistas na cirurgia de tumores da coluna vertebral.
Sobre a vivência como médico assistente num caso semelhante, posso referir que foi muito útil para o doente ter tido acesso a uma segunda opinião médica que veio a concretizar-se numa proposta terapêutica muito válida.
Não uma transferência de responsabilidades…
Em suma, sempre que o paciente tiver dúvidas, queira ter acesso a uma segunda opinião ou saber mais sobre a sua situação e doença, a nossa recomendação consiste em contactar os melhores médicos, pois só assim poderá ter o guidance e esclarecimento individualizado para que uma segunda opinião em Oncologia seja uma mais-valia.
Este processo deve, idealmente, ser realizado em colaboração com a equipa que assumiu a responsabilidade da condução clínica do caso. Na maioria das vezes não deveria ser um processo de transferência de responsabilidades mas sim de eficaz colaboração.
*Médico Oncologista
(Director do serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria—Centro Hospitalar de Lisboa Norte e Medical Adviser da Best Doctors)
NR: Entretítulos e destaques da responsabilidade da Redacção
Destaques:
É em casos de doença oncológica que a busca de uma segunda opinião médica é provavelmente mais frequente
Na maioria das vezes não deveria ser um processo de transferência de responsabilidades mas sim de eficaz colaboração
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8 de Setembro de 2015
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A mais-valia de uma Segunda Opinião médica