Os fatores que levam à primeira experiência são essencialmente sociais, como a pressão dos pares e necessidade de integração no grupo.
Após experimentarem o seu primeiro cigarro, cerca de 32 por cento dos indivíduos ficam dependentes, um número bastante elevado quando comparado com outras substâncias como a heroína, a cocaína e o álcool, que detêm taxas de adição depois da primeira toma de 23, 17 e 15 por cento, respetivamente.
É assim particularmente importante uma intervenção precoce nesta faixa etária, que não deve apenas incidir na consciencialização dos riscos associados ao tabagismo, como também tem de oferecer aos jovens fumadores oportunidades de cessação, tendo em consideração que estes já poderão estar em situação de completa dependência.
Outro grupo particularmente vulnerável no consumo de tabaco é a mulher grávida. Fumar durante a gravidez tem efeitos negativos consideráveis, particularmente para o desenvolvimento fetal e saúde do recém-nascido. O consumo de tabaco durante o período de gestação está associado ao aumento do risco de aborto espontâneo, de placenta prévia, de descolamento de placenta, de gravidez ectópica, de baixo peso do bebé à nascença, de rompimento prematuro da placenta, de mortalidade perinatal e morte súbita do bebé.
A acrescentar a isto, vários componentes do cigarro atravessam a placenta e alcançam a circulação fetal, causando défices da função pulmonar do feto, aumento de doenças respiratórias na primeira infância e atraso do neurodesenvolvimento, observando-se que estas crianças têm menor desempenho em testes neuropsicológicos.
Muitas mulheres deixam de fumar espontaneamente ou procuram ajuda para deixar de fumar quando sabem que estão grávidas. Este é um momento onde a mulher está particularmente alerta para os efeitos nocivos do tabaco no seu bebé, sendo uma boa oportunidade para a desabituação tabágica.
Contudo, deixar de fumar nem sempre é fácil.
Em alguns casos, o tabagismo está intimamente relacionado com patologia psiquiátrica.
Metade dos indivíduos seguidos em consultas de psiquiatria são fumadores. Esta associação torna-se ainda mais evidente em certas perturbações como a esquizofrenia e a perturbação afetiva bipolar, onde a prevalência de tabagismo é de 90 por cento e 60 a 70 por cento, respetivamente.
As evidências sugerem que fumadores com doença psiquiátrica têm mais dificuldades em suspender o consumo, o que justifica a elevada prevalência de fumadores neste grupo.
A ligação entre doença mental e tabaco é complexa e depende da doença em questão, mas uma das hipóteses mais comuns é de que o tabaco é usado na tentativa de melhorar os sintomas.
Contudo, estudos recentes defendem que a cessação tabágica pode até melhorar sintomas psiquiátricos, particularmente quando integrada num plano de tratamento da doença mental.
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*Psiquiatra da Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra
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A Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra tem por missão contribuir para o bem-estar da população através da oferta de cuidados de saúde, de atividades de formação e de investigação, na área da Psiquiatria e saúde mental, de acordo com padrões de referência internacionais.
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Doença mental aumenta dependência do tabaco